“Hoje percebo o quanto eu era feliz sem saber. 
Eu era feliz quando as rodinhas da bicicleta eram as minhas melhores amigas.
Quando o meu pai segurava a minha mão pra atravessar a rua. Quando o interruptor de luz não estava ao meu alcance.
Eu era verdadeiramente feliz quando sujar a blusa de suco de uva não era problema, mas sim diversão.
Quando qualquer coisa era motivo de risada.
Quando o maior problema que eu tinha era conseguir amarrar o cadarço do tênis.
Feliz mesmo, de verdade, era quando a matemática não conhecia as letras.
E quando acordar cedo pra assistir desenho animado no sofá era natural.
Quando ralar os joelhos era a maior dor que eu podia sentir. Felicidade era ter um dia inteirinho de sol pra aproveitar, brincar na terra e me preocupar a exercer uma profissão diferente a cada dia da semana. Já fui médica, advogada, professora, empresária, cabeleireira, veterinária.
Até feliz eu fui. Porque, quando se é criança, o mundo cabe na palma da mão e a a imaginação é a maior aliada que se pode ter. Ouvir um não era o único motivo pra se frustrar de verdade.
A chuva não carregava nostalgia, mas sim uma oportunidade de tomar banho de bica e fazer guerra d’água.
As coisas eram tão mais simples e bonitas quando um arco-iris não passava disperdido, o CD não tinha virado MP3, a caneta não era teclado e o papel ainda não era E-mail.
Eu era feliz quando tinha pouco: pouco problema, pouco cansaço e poucos anos vividos.
O irônico é que, nesse tempo, tudo o que eu mais queria era que o tempo voasse.
Crescer era o maior objetivo a ser alcançado.
E hoje, se eu pudesse, voltaria a estaca zero de onde vim. Ser adulto não é tão legal quanto pensei um dia.